sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Um brado de doçura


Uma diversão, uma alegria, uma fonte de renda. Luis, conhecido como o “homem do algodão-doce” e Dona América são personalidades marcadas em Arcos pela vitalidade e pelo “grito de guerra”. Os dois vendem doces pela força da voz



“Olha a paçoquinha, beijo-quente, geléia e algodão-doce. Olha o algodão-doce, geléia, beijo-quente e a paçoquinha”. É por este “grito de guerra” que o arcoense Luis Gomes da Silva, 56, é conhecido em Arcos e é também pelo brado, que vende doces nas ruas do município há 15 anos.
Filho de Luis Gomes da Silva e Margarida Teixeira da Silva, Luis junto com mais cinco irmãos, nasceu e foi criado em Arcos, na zona rural. Para ajudar o pai com os serviços na roça, começou a trabalhar, desde muito cedo, por volta dos dez anos. Jovem, aos 19 anos, foi para a cidade e conseguiu o seu primeiro emprego: servente de pedreiro. Foi a partir daí que a história do “homem do algodão-doce”, assim como é conhecido em Arcos começou a deslanchar. Casou-se com Sirlei Rodrigues e então sentiu a necessidade de aumentar a renda familiar. Pensando em uma forma de viabilizar essa meta, Luis começou a vender pipoca e algodão-doce nas ruas e recebia por porcentagem.
O doceiro gostou da experiência, comprou uma máquina de fazer algodão-doce e começou a vender por conta-própria. À medida que foi vendendo os algodões, Luis incrementou a oferta de guloseimas e iniciou a venda de paçoquinha, beijo-quente e geléia.
O mais peculiar e atrativo do vendedor é o seu grito, que é marcado por uma sonoridade melódica e rítmica. Quem ouve uma vez jamais esquece. Luis conta que mantém a sua casa com a venda dos doces, porém é a voz que o dá alegria de ter clientes todos os dias quando sai pelos bairros da cidade, com a piteira cheia de algodões e uma caixa-metal com outros doces. Ele conta que no início, quando começou a vender, o grito não saía com a sonoridade que sai hoje. Ao contrário do que exclama atualmente, outrora ele dizia: “paçoquinha, amendoim-doce, geléia e algodão-doce”. A frase não tinha ritmo, lembra o vendedor. O brado foi aprimorado quando uma senhora deu a dica a Luis de gritar “beijo-quente” ao invés de “amendoim-doce” e, além disso, o doceiro descobriu a ordem das palavras e o macete de que se invertesse a ordem da frase, ela poderia se tornar uma melodia.
O grito do “homem do algodão-doce” atrai crianças e até mesmo pessoas que estão dentro de casa. “Vendo algodão-doce no grito. Se sair calado não vendo nada”, afirma. Inclusive, Luis conta que nos dias em que está com a garganta inflamada não sai às ruas para comercializar os doces. O doceiro brinca e diz que sai mais gritos do que venda e que já levou algumas mordidas de cães por causa disso. Ele diz ainda que há muitas pessoas com preconceito em relação ao trabalho dele, pelo fato de ele ter uma forma diferente de atrair os consumidores.
A rotina de Luis é de fazer inveja a quem faz caminhadas, afinal, o doceiro anda em todas as ruas, de oito bairros, durante cinco dias da semana. Segundo ele, gasta em média oito horas para fazer esse trajeto; sai de casa por volta das 14 horas e retorna por volta das 22 horas. Devido ao extenso esforço físico, o vendedor diz que já foi internando quatro vezes por causa das fortes câimbras que sente nas pernas.
Cada dia, Teixeira vai para uma zona da cidade e nunca regressou para a casa sem vender nada, embora diga que no passado vender doces nas ruas era mais fácil, porque as pessoas não tinham acesso à variedade de guloseimas que se tem hoje nas padarias e até mesmo nas praças.
Luis afirma que só deixa de ir as ruas vender os doces quando está doente e que irá comercializá-los enquanto tiver vida.
Com a mesma motivação de Luis, América de Oliveira Carvalho, 71, pretende vender nas ruas de Arcos, “pés-de-moleque” e “biquinhos”, enquanto estiver de pé. Há 21 anos, ela vende os doces nos bairros Brasília, São Vicente, Vila Boa Vista e no centro da cidade.
Com carisma, América tem no ofício um divertimento sem igual; conversa com quem encontra nas ruas e descontrai com a oferta dos doces. Ela também tem um grito de guerra: “pé-de-moleque, olha o biquinho”. Com ‘jeitinho de vovó’ oferece os doces às pessoas com meiguice, fato que faz com que ela volte para a casa com o balaio de guloseimas vazio. Uma vez ou outra, ela brinca e diz para quem passa na rua: “aceita um biquinho, um pé-de-moleque para você ficar docinho?”. Essa é a rotina de América, de segunda a sábado, das 14 horas até as 17 horas. “A alegria que eu tenho na vida é essa: andar e vender os doces e ir conversando com as pessoas. Enquanto eu puder andar vou continuar a vender , porque se não fico triste e doente.”
O segredo do sucesso dos dois doceiros está no brado, pois América, assim como Luis, diz que se não gritar não vende nenhum doce.

4 comentários:

Anônimo disse...

e ainda mim lembro,de quando eu era criança;dona america vinha gritando biquinho,pé de moleque eu ia correndo para comprar;que bons tempos que não volta mais.
claudia parabens pela materia

Anônimo disse...

A Dona america já morreu em 2007.

Marieta Campos

Anônimo disse...

que pena , os dois ja morreram e Tudo se acabou...

Anônimo disse...

a tradição continua por outros vendedores, o grito é o mesmo.