terça-feira, janeiro 12, 2010

Mouraria é Lisboa inteira

Antes de mais, é importante dizer que vivi em diversos pontos do bairro, de 2006 até o mês passado. Há portugueses que não vão a este bairro, por ser considerado uma zona perigosa. Localiza-se no centro histórico de Lisboa. Eis a minha homenagem:


Bairro da Mouraria: lembra o verbo morar. Rima com Olaria. Estamos na Rua dos Cavaleiros, próximo à Rua do Benformoso e da janela vê-se o vizinho a tirar os espinhos das rosas vermelhas. Exacto! O senhor indiano que vende rosas vermelhas nas altas horas da madrugada nos restaurantes do Bairro Alto está ali, no prédio em frente, ocupado com sua actividade diária. O morar da Mouraria é o morar do outro. Os prédios estão colados uns aos outros. Vê-se o outro, fala-se com o outro a estender a roupa. A seguir, os dias de chuva, Mouraria cheira a amaciador. A janela toma lugar de quintal. A língua de Camões, naquele que foi seu bairro, metamorfoseia-se em diferentes sotaques e tons. Uma estátua de uma viola portuguesa dá eco ao lugar de origem do ritmo mais português de sempre. Na Mouraria ainda é possível sentar-se ao pé de uma bananeira. Num bairro de 5 mil habitantes, pode-se ler um cartaz, pregado num muro, em mais de 5 línguas, e escrito à mão: um pedido para não se deitar lixo, nos dias em que não há recolha. Neste bairro, há vida clandestina, mas há vida de aldeia. Hás casas encavalitadas, como àquelas que tanto julgamos nos países de terceiro mundo. Há Banco de Tempo Mouraria é muito mais do que um bairro. É uma Lisboa inteira.

2 comentários:

Anônimo disse...

é um mundo dentro de um mundo.

Lucas Castro disse...

Conseguiu a entrevista?