sábado, fevereiro 18, 2006

Colecionar é...

Arcoense coleciona todo tipo de objeto e faz de sua casa um museu, que tem desde peças requintadas como um jogo de chá da China a um jogo de antigas vasilhas de margarinas coloridas





Apesar da atual era digital, em que a memória coletiva começa a ser arquivada em cds-rooms e disquetes, ainda existem pessoas que preservam o passado por meio de coleções. A reunião dos objetos pode ser das mais comuns, como latas de cerveja, discos, cartões-postais às mais exóticas, como caramujos, vasilhames de margarina e copos de festival de sorvete. Muitas vezes, o ato é encarado como um puro prazer, e não como mania.
A primeira peça pode ser guardada para eternizar alguma lembrança ou um momento, ou até por ímpeto. A arcoense Maria da Conceição Contins, 76, não sabe dizer com precisão, porque começou a colecionar. Ela só se lembra que as primeiras coleções surgiram de manias estranhas. Aos 15 anos, pegava ovos de passarinhos e fazia deles colares, e os guardava. Já aos 18 anos, Maria colou gravuras em alguns azulejos, gostou do resultado e não conseguiu desfazer dos objetos. Ao contrário da maioria dos colecionadores que possuem objetos da mesma natureza, Maria guarda artefatos de toda espécie.
Ao entrar na varanda da casa da colecionadora, logo se depara com uma janela forrada de fotografias antigas e peculiares, dela e dos familiares. Todos os cantos da residência têm objetos de todo tipo: caramujos, miniaturas, joão-de-barro, copos, louças, colheres de plástico. Maria distribui os objetos de acordo com os cômodos da casa. Na sala ficam objetos variados, no quarto ficam os potes de cremes que ela possui há 20 anos, na cozinha ficam as vasilhas de margarina que guarda com orgulho. Segundo a colecionadora, esses vasilhames foram os primeiros a serem fabricados no Brasil, para o transporte do alimento. Inclusive, a diferença é nítida, porque são todas coloridas. Outra coleção que Maria se gaba é um jogo de chá chinês que tem 100 anos, que comprou de uma amiga.
Entretanto, parte das 500 peças que possui em casa, Maria pegou do lixo, e outras ganhou de amigos e parentes. “Para mim, nada é lixo, tudo é bonito. Pego o que as pessoas jogam fora, limpo e decoro a minha casa”, conta Maria da Conceição.
A excentricidade de Maria chama a atenção das pessoas e algumas até fazem ofertas de compra das coleções da colecionadora. Uma das indagações freqüentes que os visitantes fazem é como consegue manter a casa limpa. Maria da Conceição responde com orgulho e satisfação: “É com a graça de Deus”.
Mais do que uma colecionadora, Maria da Conceição é uma figura histórica de Arcos. A arcoense conta que foi a primeira moradora da rua Donato Rocha, localizada no centro da cidade, e que viu o município crescer e evoluir. As coleções de Maria já foram reportadas no jornal-laboratório “Portal” da Puc Minas Arcos, e no telejornal “Oeste Notícias”, transmitido pela TV Oeste.
Muitas pessoas encaram este ato de colecionar com preconceito e o interpreta como loucura, passatempo ou simplesmente como mania, porém o psicólogo social, Daniel Augusto dos Reis explica que o ser humano é movido por desejo, ao contrário dos animais que são que são movidos pelo instinto. Para o psicólogo, o colecionador vê na coleção uma forma de suprir esse desejo, uma sensação de incompletude que todos os indivíduos possuem em si.
“O objeto de desejo pode ser animado ou inanimado. O ser humano deposita nos materiais a confiança de que eles irão suprimir a sua incompletude humana. Uma série de coisas trazidos para perto si é representativa e é a forma que os colecionadores encontram para satisfazer um desejo inconsciente”, explica Daniel Reis.

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