quarta-feira, março 29, 2006

Há sim, entre estranhos, pessoas conhecidas.
Você se tornou uma delas. ...
VOCÊ...
Palidez, embriaguez, rapidez se entrelaçam e trazem continuamente o sorriso nos seus lábios...
Lábios?
Lábios que não sabem o que proferem, mas possuem uma delicadeza perceptível. Eles trazem à tona o irreal do real dos seus olhos. ...
Olhos?
Transmitem uma confluência de desespero, fragilidade e esperança, ocasionando o apalpar de suas mãos no quarto escuro da vida. ...
Mãos?
Mãos tais, que constroem dia após dia um enigma, inconscientemente...
Instigando a decifração das mentes que o vê, inclusive da que escreve. ...

quarta-feira, março 22, 2006

"Livro dos nuncas"

Você já pensou nos seus "nuncas"? Aquelas coisas nunca feitas, mas inerentes à todo ser humano ansioso de vida pulsante, e não quer dizer que você tenha que fazer ou realizar.. Algumas pessoas dizem que nunca podemos dizer nunca...
Eu acho isto um equívoco, pois a própria frase é unilateral!!!
Bem, pois eu penso, falo e escrevo muitos "nuncas", inclusive o meu "livro dos nuncas". A lista serve como desencargo de consciência para uma mente que não cabe em si de tanto pensar, e que apesar disso tenta se manter sã !!! Tive a idéia de fazer esta lista, quando nem mesmo tinha feito algumas coisas simples do cotidiano que todos fazem!!! Agora com uma nova roupagem ela ganhou um tom poético, mas sem ter aquele tom de "impossibilidade" que a palavra "nunca" denota e sem o tom de "obrigação" de se cumprir tais idéias que um dia eu impus a mim mesma... Portanto, deixo bem claro que este texto não se reflete em frustação, mas sim em dialética, flexibilidade e auto-desafio!!!Pois, assim como disse o sábio Mário Quintana, não existem sinônimos mais perfeitos do que "nunca" e "sempre"!!!! Ah, também sei que poderia acrescentar um "mas" a cada um destes versos, mas prefiro deixar como está!!!

A sensação do nunca

Eu nunca dancei e beijei na chuva
Eu nunca fiz pacto de sangue
Eu nunca fui ao Louvre
Eu nunca morei na praia
Eu nunca viajei pelo mundo
Eu nunca conheci o mundo
Eu nunca publiquei um livro
Eu nunca entendi a paixão
Eu nunca entendi o amor
Eu nunca ouvi o barulho das asas de uma borboleta
Eu nunca beijei como um beija-flor
Eu nunca salvei uma vida
Eu nunca fui ao paraíso
Eu nunca voei
Eu nunca dormi num colo de alguém
Eu nunca andei de montanha-russa
Eu nunca disse "basta"
Eu nunca disse sim
Eu nunca disse não
Eu nunca fui mãe
Eu nunca fui filha
Eu nunca desmascarei um corrupto
Eu nunca fui criança
Eu nunca fui adulta

segunda-feira, março 20, 2006

Um perfil de Arcos

Apenas 67 de anos de emancipação político-administrativa e o município de Arcos já se destaca na região Oeste de Minas Gerais pelo desenvolvimento acelerado.
Com uma área territorial de 510 quilômetros quadrados, uma população estimada em 35.390 habitantes a cidade é a 26º colocada em Minas Gerais no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com um percentual de 0.808. A nível nacional, o IDH de Arcos fica em 410º lugar entre os 5.560 municípios do Brasil, de acordo com os critérios de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
Conforme os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do censo de 2002, a cidade tem o PIB (Produto Interno Bruto) somado em R$ 235.269 e o PIB per capita em R$ 7.531.
A principal base da economia do município é a industrialização, que se iniciou com as fábricas de curtume, manteiga, pente, violino, aguardente e serrarias. Depois, descobriu-se a riqueza do subsolo, e vieram as indústrias extrativas. Como a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), produtora de aço, que adquiriu a jazida, em 1956, e iniciou a operação em 1977 e está em atividade até hoje. Além da CSN, no município existem as indústrias Lafarge Cimentos, a Imerys, Lagos, Itaú, Agrimig, Arcal, Mineração João Vaz Sobrinho e Calcinação Cazanga. No setor educacional, Arcos é referência na região pelo grande número de escolas: dez municipais, seis estaduais e nove particulares (do ensino infantil ao pré-vestibular), além de ter duas universidades, a UNIPAC (Universidade Presidente Antônio Carlos) que oferece o curso Normal Superior e a PUC (Pontifícia Universidade Católica) que é a maior universidade privada do estado e a quinta do país em número de alunos.
Com 46 anos de história em Minas há seis anos a PUC instalou o campus em Arcos. Atualmente, a universidade oferece cursos de graduação nas seguintes áreas: Administração, Comunicação Social, Direito, Psicologia e Sistemas de Informação e de pós-graduação na mesma área, com exceção de psicologia.
A cidade tem uma grande população flutuante devido a esta gama de possibilidades que oferece para estudantes da região. Para se ter uma base só da PUC são mais de 2.300 estudantes de mais de 50 cidades e 131 professores. Muitos residem em Arcos no período letivo, contribuindo para o desenvolvimento cultural, econômico e social do município.
Apesar de a cidade ter uma potencialidade turística pouco explorada, ainda pode-se fazer belos passeios pelo Poliesportivo Municipal conhecido pela piscina olímpica e pelo parque, onde se encontra um cenário florestal, tucanos, micos e coelhos as soltas e também pelo Corumbá, área ambiental e industrial, onde se localizam as pedreiras de calcário, o Núcleo Museológico e a Estação Ecológica. As pessoas também podem se entreter com os espetáculos de dança e teatro nacionais e regionais que acontecem no anfiteatro da Casa de Cultura.


Um breve histórico


Consta no histórico do município, que Arcos foi fundado em 1729 pelos irmãos Manoel Ribeiro de Morais e Antônio Ribeiro de Morais, porem foi no dia 17 de dezembro de 1938, através do decreto-lei estadual de nº 148, assinado pelo governador Benedito Valadares, que o distrito tornou-se município, e deixou de ser subordinado a cidade de Formiga. O primeiro prefeito da cidade foi o coronel José Ribeiro do Vale.
Em 1829, construiu-se a primeira capela, dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Concluída a construção, formou-se um arraial, que por ato da Câmara Municipal de Formiga, aprovado pela Lei Provincial nº 239 de 30 de novembro de 1842, tornou-se distrito. Em 1853, foi inaugurada a primeira Igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo, em 12 de novembro de 1916 foi instalada a primeira escola e em 1931 o primeiro grupo escolar.
No ano de 1939, a cidade tornou-se servida por água potável, canalizada, dispondo de um depósito de 100.000 litros. A nascente da água captada ficava a 5 Km da sede municipal.
A data “16 de julho” é o dia da Festa da Padroeira de Arcos, Nossa Senhora do Carmo. Durante muito tempo foi considerado o Dia da Cidade, mas com a promulgação da Lei Orgânica Municipal, em março de 1990, que formalizou o Dia da Cidade em 17 de dezembro (data de emancipação política do município), as festividades se desencontraram.
Mas como é difícil a lei revogar a tradição e desmanchar as marcas na vivência popular, a população continua, comemorando as duas datas no mesmo dia 16 de julho. Este é o dia de festa na cidade, em que acontecem desfiles, gincanas e solenidades religiosas.


A origem do nome


A origem da toponímia “Arcos” é contada em cinco versões. A versão mais comum é mais conhecida pela população, é de que os tropeiros deixavam os arcos de barril na passagem do córrego para indicarem o rumo da estrada boiadeira que seguia para o sertão da Farinha Podre (Triângulo Mineiro).
A segunda é a abundância das palmeirinhas, uma planta semelhante ao bambuzinho, com lascas apropriadas à confecção dos arcos de peneiras.
A terceira: o Córrego do Gracindo fazia barra com o dos Cristais em forma de forquilha, no lugar onde nasce o Rio dos Arcos, que banha a região, fazendo uma curva semi-circular. Quarta: a maneira antiga de designar os inimigos numa expedição dos caçadores de índios: “tantos arcos”, ou seja “tantos índios armados de arcos”.
A última versão e mais crível é devido à procedência lusitana dos colonizadores da cidade, egressos do Arquipélago do Açores (que se chamava Arquipélago das Formigas), de possessão portuguesa. O nome Arcos, afirma Xavier Fernandes, no livro “Topônimos e Gentílicos” é comum na toponímia de Portugal, onde aparece espalhado por cerca de vinte concelhos.

Fonte: Livro "História de Arcos"

sexta-feira, março 17, 2006

Aquele que é poeta...

Com a arte correndo nas veias, João Evangelista espera em frente ao seu prédio à tarde, lá pelas 17:30, o horário das garças passarem no céu azul para serem capturadas pela lente da câmera fotográfica



Homem das letras, homem da terra, homem de Arcos: João Evangelista Rodrigues, 57, não é a toa que seu nome “João” rime com criação, diversão e região. Jornalista, poeta, filósofo, compositor e fotógrafo ele cria, recria e inventa a realidade a todo instante, divertindo-se no ambiente no qual está inserido, em sua terra natal e conseqüentemente em Minas Gerais.
Em seu apartamento, lugar que segundo ele foi escolhido por possibilitar uma visão privilegiada da parte verde da cidade, da Lua e por ser localizar em um lugar calmo, João relembra a sua infância na fazenda Sant`Ana, lugar em que nasceu em 04 de julho de 1948, em Arcos. Aos sete anos, ele ajudava o pai, o agricultor Pedro Evangelista Rodrigues na capina e aprendia com a mãe, a professora primária, Noemia Teixeira Rodrigues, a afeição pelas letras. Com um tom de gratidão, ele conta que se familiarizou com os livros, antes de freqüentar a escola por influência da mãe, que também escrevia poemas e possuía obras literárias em casa.
João trabalhou no armazém de seu pai como caixeiro e lia todos os jornais que chegavam à loja. As palavras-chave que o convidavam a leitura eram Literatura e Poesia. Ele pausava a atividade, lia e ate recortava os textos. Como, desde a adolescência conscientizou-se que para um escritor escrever bem, deve ler muito, ele comprou com o primeiro salário uma caixa de livros, e foi repreendido pela mãe, por causa do ato obstinado, enquanto ela estava passando por dificuldades financeiras. Porem a descoberta do conceito e das vertentes da literatura, João achou nos Suplementos Literários de Minas Gerais que começaram a ser impressos em 1970, criado pelo jornalista mineiro Murilo Rubião. Nessa época João já escrevia poemas e em 1974 já possuía muitos escritos guardados, aqueles que todo escritor iniciante tem receio de mostrar a outrem. Ele conta que começou a escrever versos com freqüência a partir dos 18 anos, e desde então escreve freneticamente.
Depois de migrar para varias cidades de Minas Gerais e cursar Filosofia no Seminário da cidade de Mariana, Evangelista mudou-se para Belo Horizonte, onde teve oportunidade de fazer amizades com diversos escritores de Minas Gerais. Essa fase, segundo ele, foi de efervescência cultural, participava de saraus, manifestações, passeatas do movimento estudantil e buscava todo tipo de informação sobre a historia da literatura nacional e internacional.
Em 1980, Evangelista formou-se em jornalismo pela PUC Minas de Belo Horizonte, aos 30 anos. Nessa época, João fazia da equipe de reportagem do Jornal “O Arcos”.
Em 1983 Evangelista descobriu a paixão de fotografar, mesmo com o sério problema de visão. Ele lembra que no inicio fotografava baseado nas sombras, na luz e no plano geral. O prazer de capturar imagens se tornou constante, e pode-se perceber isso nos livros dele, que sempre são ilustrados com fotografias de sua autoria.
Segundo João, a deficiência visual também o aproximou da musica. Hoje ele tem cerca de 100 músicas gravadas por conceituados músicos mineiros e 400 letras escritas. Em agosto, ele conta que ira lançar o disco “Andejo” que tem composições suas e do intérprete Joaci Ornelas.
A veia artística de João também foi canalizada para o ensino. Ele foi professor e coordenador do curso de jornalismo da PUC Minas Arcos do segundo semestre de 2000 a 2004.


Bibliografia


O primeiro Livro, no qual, João Evangelista publicou seus versos foi na antologia “Hora Extra”, reunião de poesias de funcionários da extinta Agência Bancária Minas-Caixa. A coletânea foi organizada por ele mesmo, na época era assessor de imprensa do Banco. O ato de escrever para Evangelista é uma necessidade que chega a angustiar. Ele lembra que no início da carreira literária chegou a queimar e rasgar poemas, por não gostar e nem se interessar por aquilo que havia escrito. A literatura produzida por ele, é permeada por um inconformismo com o mundo, com as relações sociais estabelecidas e principalmente por um sentimento de angústia diante da existência humana. “O meu trabalho é sobre a vida, a morte, sobre o conflito que existe em nós. O papel do escritor é transformar sua angústia pessoal em obra de arte e deixar que esta aflija o leitor para que este se transforme também”.
O poeta diz também que suas obras são voltadas para a crítica social, com influência de João Cabral de Melo Neves, Ferreira Gullar, e que apesar de gostar muito de Carlos Drummond de Andrade, que este não tem influência direta sobre a sua obra.
O primeiro livro de poesias escrito por João foi o “Avesso da Pedra”, publicado em 1984. O segundo “Mutação dos Barcos” de 1989 que reúne fotografias e versos sobre o rio Madeira de Rondônia. O terceiro, “Oeste das Letras” é um longo poema dedicado a Arcos, em que o poeta faz referências à primeira rua habitada da cidade, a Augusto Lara, onde o escritor passou parte de sua infância. O último, “Transversias” foi escrito em 2002. Evangelista apresenta na obra três momentos distintos de Minas Gerais: O que é Minas? O poeta mostra a cultura, religiosidade e paisagens mineiras. No segundo momento: O que mudou em Minas? E finaliza com: Quem se mudou de Minas? Listam-se os personagens e os fatos do dia-a-dia do estado.
As poesias de Evangelista também estão nas coletâneas: A Fala Irregular (1983), Antologias de Poesia (1992), Signopse: A Poesia na Virada do Século (1995), Fenda: 16 poetas vivos (2002), e na Poesia dos Jornalistas (2004), essa última é peculiar por ser uma coletânea dos jornalistas que venceram o I concurso Nacional de Poesias para Jornalistas, do qual João foi o vencedor com o poema “Namorado da Poesia”.
O escritor revela que tem dois livros prontos para publicação: um que trata da questão da morte, intitulado “Fascínios da Morte” e o outro “Visões de João Manuel”, um trabalho intertextual que intercala, trechos dos livros do poeta Manoel De Barros com fotografias tiradas por Evangelista.

quinta-feira, março 16, 2006

História do Carro de Som: a 'voz do povo' em Arcos

Quem mora em cidades de interior já está acostumado a ver e ouvir os carros de som que anunciam desde produtos e promoções comerciais a perdas de bens pessoais e notas de falecimento. Mas geralmente quem vive em grandes centros não está habituado com tal cena, justamente pelo fato de o carro de som ser uma alternativa publicitária de municípios pequenos e, portanto, desconhecido nas metrópoles.
Foi tal fenômeno de comunicação regional que motivou as alunas de publicidade e propaganda da PUC Minas Arcos, Maria Cristina Oliveira, Sandra Patrícia Ramos, Gabriela Carolina Campos e Vilma Celina da Silva a fazerem uma pesquisa sobre a eficácia e história do carro de som em Arcos. As pesquisadoras fizeram o levantamento histórico, a partir de entrevistas com o professor arcoense Humberto Soraggi Filho, com o taxista e pioneiro do carro de carro na cidade, Pedro Antônio dos Santos e a com a esposa dele, Lázara dos Santos. Todas as informações foram condensadas no artigo científico “O carro de som como mídia alternativa eficaz no Oeste mineiro”.
Assim como elas relatam no artigo, a utilização da radiofonia em Arcos começou nos anos 50 do século XX, com a Amplificadora Vitória, cujo proprietário, João de Melo Sobrinho, era mais conhecido como “Zé da Bicicleta”. A estação possuía uma programação musical, com oferecimentos aos ouvintes, anúncios e momentos reservados para os “inflamados” discursos políticos da época. A rádio funcionava por meio de alto-falantes que, estrategicamente posicionados, alcançavam uma grande distância. As transmissões eram encerradas todos os dias ás 21 horas com uma antiga música chamada “Sinos do Havaí”. Os textos publicitários eram feitos pelo próprio João de Melo, conforme os interesses do anunciante.
As estudantes referem-se à importância da igreja católica no desenvolvimento da comunicação via amplificadores. Na década de 50, Padre Domingos empregou o alto-falante para propagar músicas religiosas e avisos de missa. Um fato super curioso na época eram os avisos de falecimentos, anunciados pelos toques dos sinos. Quando o toque era agudo havia morrido uma mulher, caso o som fosse grave, o falecido era um homem. Ao tocar dos sinos, as pessoas já se perguntavam: “Os sinos estão tocando... morreu alguém... quem será?”.
Os anúncios de falecimento e missa de sétimo eram noticiados também nos boletins. Após algum tempo, o informativo foi substituído pelo serviço de alto-falante volante. Hoje é realizado pelo carro de som.


Precursor e pioneiro


Um dos precursores do carro de som em Arcos foi uma figura famosa dos moradores antigos, conhecido pelo apelido de “mudinho Baguega”. Toda terça-feira, dia tradicional de exibição de filmes no cinema (algumas vezes às quintas e sábados), ele pendurava nas costas, um cartaz com o nome do filme e determinadas cenas impressas, parava nas esquinas e gritava com um megafone: “o bague, bague, bague, baga, bague baga hoje”. Por não pronunciar as palavras corretamente, a única palavra que se entendia era “hoje”, portanto, as pessoas que se interessavam por cinema eram obrigadas a correr e ler nas costas o nome do filme que seria exibido.
Já na década de 70, iniciou-se a adaptação dos altos-falantes nos carros. O pioneiro no ramo foi Pedro Antônio dos Santos, o “Pedro do táxi”, junto a sua família. A esposa dele, Lázara dos Santos lembra que no início eles começaram a anunciar num carro muito antigo, chamado Aero Willys e, em cima, as cornetas Delta. Segundo Lázara, o primeiro comercial foi uma propaganda da Celeta Móveis, loja de Formiga. “Compramos uma caixa pequena de som e, todos os dias, eu ajudava o meu marido a colocá-la e tira-la do teto de um fusquinha”. Depois de um período, Lázara lembra que ampliaram o negócio ao comprarem uma caixa maior, uma belina e caminhonetes. As gravações eram feitas em fita cassete, posteriormente em MD (um pequeno CD) e, atualmente, em CD.
Um fato que comprova a eficácia do carro de som é um acontecimento que Pedro sempre conta; um idoso precisava fazer uma cirurgia e não tinha condições financeiras, então contratou o carro de som para solicitar ajuda ao povo da cidade. Fizeram gravação original, com a locução do solicitante. Os dois saíram juntos pelas ruas. O valor arrecadado foi dez vezes superior ao que ele precisava.
Hoje, depois de 32 anos de empreendimento, tem três carros de som e é seu filho mais novo quem dirige os automóveis.

sexta-feira, março 10, 2006

A espetalística TV

A palavra “espetáculo”, segundo o Dicionário Aurélio significa: “1.tudo o que chama atenção, atrai e prende o olhar. 2.Representação teatral, ou semelhante; função. 3. cena ridícula ou escandalosa". Este vocábulo vem do latim e, resumidamente, quer dizer “dado à visibilidade”. Já a “notícia” para os teóricos Stanley Johnson e Julian Harris é o relato de um acontecimento ocorrido, que interessa aos leitores ou qualquer coisa que muitas pessoas queiram ler, ouvir ou ver no jornal da TV, sempre que essa seja apresentada dentro do cânone do bom gosto e das leis de imprensa. O que poderíamos dizer, então, da junção dos dois verbetes? A notícia perdeu o valor e o objetivo de atender ao direito de informação da população para se tornar ‘espetalística’(palavra inventada por mim); com uma finalidade desenfreada de vender bens culturais, e assim acaba por DES-informar ou mal informar o receptor!
Os canais televisivos são abarrotados de programas sensacionalistas que exploram os dramas humanos, com características cinematográficas e teatrais. Devido a audiência elevada são copiados por vários meios de comunicação. Podem-se citar alguns como o Linha Direta, Programa do Ratinho e Cidade Alerta.
Grande parte dos programas utiliza personagens reais ou fictícios para ilustrarem a história narrada, inclusive o Linha Direta da Rede Globo é campeão no quesito “teatro na TV” ao mostrar uma representação para cada história narrada, interpretados por atores em cenários que lembram um anfiteatro. São simulações de casos macabros como crimes passionais, estupros ou até mesmo a perda de pureza de uma adolescente.
E não só os programas de final de noite se vendem ao “mercado do espetáculo”. Não podemos deixar de ter uma consciência crítica e engolir tudo que os telejornais veiculam, pois os noticiários televisivos mais do nunca manipulam a realidade, enganam e se prestam a condicionar a opinião pública. A conhecida “edição” aliena o telespectador a ponto de persuadi-lo a chorar, amar ou odiar.
O Jornal Nacional, transmitido pela Rede Globo não é apenas um noticiário, mas é um programa em que se dita moda, comportamento e valores. Com matérias bem elaboradas, porém parciais, o jornal influencia a opinião das pessoas quanto ao melhor candidato a presidir o Brasil, quanto ao melhor jogador de futebol a ser escalado para a seleção brasileira e pasmem, eles ousam até em induzir quem é o “ídolo” a ser endeusado. Além disso, tornou-se um show, muitas mulheres lhe assiste para ver o terno e o corte de cabelo da apresentadora Fátima Bernardes, ou o rostinho bonito do âncora Willian Bonner.
O conceito citado no 1º parágrafo diz que a notícia é centrada nos interesses do receptor, mas, inescrupulosa, a mídia tem seguido os parâmetros da Indústria Cultural, guiada pelos princípios do capitalismo, transformando a notícia em mercadoria.
A espetacularização da imagem e dos fatos é o meio eficaz que a televisão utiliza para ter mais audiência, ter mais anunciantes, e conseqüentemente ter maior lucro. Os meios de comunicação têm massificado, banalizado a notícia e injetado nos indivíduos os conteúdos de forma indiferenciada e esses obedecem cegamente aos estímulos recebidos.
Enfim, em uma sociedade que está tiranizada pela imagem, muitas vezes não se tem espaço para o pensamento crítico e a população assiste muita televisão pensando que está se informando, quando, na verdade, está se DES-informando.

terça-feira, março 07, 2006

Arte dos Sonhos ou Sonhos da Arte?





Fazer arte por amor à arte e ter a 'fortuna' de ser autodidata. Anselmo Calixto, mineiro, nascido em Arcos é assim: começou a pintar aos 14 anos por curiosidade e até hoje exerce o ofício por prazer.
Professor de geografia e história, ele conta que, na adolescência, mesmo sem conhecer nada sobre arte comprou pincéis, tintas e telas para iniciar as primeiras obras e aprendeu a lidar sozinho com as tintas. Pintava casarios, casas e igrejas ao estilo barroco. Depois de se familiarizar e ganhar intimidade com o pincel, a tela e as tintas, Anselmo começou a criar peças mais autênticas, com definida subjetividade e abstração. Totalmente seduzido pelas cores quentes como vermelho, amarelo, laranja e tons fortes como azul e o preto, o artista retrata em suas telas o seu modo de ver o “lado colorido” da vida. Ele é incisivo ao dizer que apesar de ter pintado algumas telas com tons pastéis, não gosta nenhum pouco dessas cores. “O mundo é colorido, não existe nada sem cor e tudo tem muita luz”, observa.
Sem nunca ter participado de uma aula ou cursos de aperfeiçoamento, Anselmo diz que pinta por paixão à arte e que seu autodidatismo pode ter uma explicação genética. "Na minha família várias pessoas desenham bem, inclusive minha avó materna, Maria Rita Martins. No entanto, meu desejo de pintar nasceu espontaneamente, pois nunca me questionaram se eu gostaria de fazer um curso de artes plásticas”.
Para alguns pintores a inspiração para se criar a obra de arte é extraída do meio ambiente; para outros de um sofrimento interno e para Anselmo, assim como para outros surrealistas é retirada dos sonhos. Geralmente, quando ele tem alguma inspiração onírica, escreve, ao acordar, as cores com as quais sonhou para utilizá-las nas telas. Foi assim com um de seus quadros, que possui várias tonalidades de azul.
Mesmo depois de ter pintado aproximadamente 500 telas, Anselmo diz que é difícil definir a sua obra, pela subjetividade que cada uma carrega em si. “Quando termino uma tela, às vezes vejo coisas completamente diferentes daquilo que imaginei. Devido às várias formas e cores a mente é conduzida para várias interpretações. E quando a obra é exposta, cada pessoa entende de um jeito”.






O artista que pretende fazer várias exposições neste ano, conta que está em um momento de inspiração, com um desejo intenso de pintar o tempo inteiro. Depois de ficar os meses de dezembro e janeiro sem criar, agora ele está fazendo uma série de telas para a decoração de um apart-hotel de Ouro Branco(Minas Gerais) e também para uma firma de exportação de Arcos. Anselmo também almeja fazer uma vernissage na Casa de Cultura, em Arcos, com artistas plásticos do município e região, e também uma série especial para expor em Ouro Preto ainda em 2006.
Quando era vice-diretor da Escola Estadual Berenice Magalhães Pinto, Calixto se destacou pela execução de um projeto alternativo. Com a ajuda de uma funcionária e um aluno, fez vários painéis nas salas de aula com releituras das obras de artistas plásticos brasileiros, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. O objetivo do projeto era divulgar e instigar a curiosidade dos alunos em relação aos artistas plásticos brasileiros.