quinta-feira, julho 31, 2008

Sinto que preciso começar de alguma forma... Procuro me informar sobre o meu passado. Pergunto à pessoa que está ao meu lado agora: Como estava eu quando cheguei? A resposta não interessa neste momento... Quero voltar a escrever...

Muitas memórias e personagens na minha vida... Escrevo relatos, memórias, crónicas ou reportagens. Por onde começo...Escrevo como Annie Frank ou lanço-me ao destino como Raskólnikov?

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

O comércio do pão de queijo em Portugal

De uma forma lenta, o pão de queijo, alimento com origem no Brasil, passou a ser comercializado em Portugal. Muitos cafés e pastelarias já o vendem, assim como fabricantes e distribuidores


Os ingredientes do pão de queijo - os ovos, o leite, o queijo ralado, o sal e o polvilho ­- já estão sobre a mesa da cozinha, enquanto ao fogo se prepara o “escaldado”, um fervido de óleo e leite, que ajuda a humedecer o polvilho e a formar uma massa homogénea.
Quem o está a preparar, em sua casa, é a brasileira Elizabeth Jubilot para a ensinar a receita ao enteado português, Daniel Jubilot, 24, que se intitula “viciado” em pão de queijo. Daniel, morador de Lisboa, já tinha comido muitas vezes o pão de queijo, mas não conhecia a receita. No final da liçao culinária, sente-se satisfeito com o resultado, e vê que afinal é facil fazer a massa e enrolá-la depois em forma de pequenas bolinhas.
Assim como Daniel, outros portugueses já têm o pão de queijo como um hábito alimentar, seja feito em casa ou comprado no café da esquina para acompanhar o cafezinho diário. Elvira Jesus de Oliveira de Mendes, 38, moradora em Ourém, autora de dois blogues dedicados à culinária e administradora do site “Cozinhas do Mundo” (uma espécie de comunidade de blogues gastronómicos em língua portuguesa) faz a receita em casa, de 15 em 15 dias. “Já fiz muitas vezes e fica muito bom”. Ela experimentou-o, pela primeira vez, como entrada num restaurante em Espinho, no norte do país. Elvira publicou em seu blog a receita de pão de queijo depois de a encontrar numa revista brasileira de culinária, “Cozinhando com Malu”, vendida em Portugal. “Há alguns portugueses que procuram pão de queijo. Parece que está na moda”, sugere.
Ao contrário, os comerciantes dizem que a guloseima ainda não é popular em Portugal. “Ainda se vende muito pouco, porque grande parte dos portugueses ainda não o experimentou ou, se já ouviram falar, não percebem a ideia de um pão que não è feito com farinha”, diz o paulista Walter Pinter, 45, que veio do Brasil para organizar um franchising da “Casa do Pão de Queijo”. Os clientes também não gostam do preço, mas Pinter com uma resposta na ponta da língua explica que o pão de queijo se compara ao pastel de nata: ambos são pequenos e custam quase um euro, isto porque são produzidos com elementos nobres. “É o pastel de nata dos brasileiros”, compara.
Segundo o empresário, os portugueses que consomem pão de queijo são pessoas que já moraram ou fizeram turismo no Brasil. Apesar da dificuldade em vulgarizar a venda do produto em Portugal, Pinter conta que se ouve dizer que a origem do pão de queijo rudimentar pode estar ligada aos portugueses colonizadores. “Depois de estarem um tempo no Brasil queriam fazer pão, mas ainda não havia farinha. Então, começaram a usar a fécula de mandioca (da qual o polvilho é fabricado) utilizada pelos índios na alimentação diária para a fabricação do pão.” A partir daí, acredita-se que tenha surgido o primeiro arquétipo de um pão de queijo, seguido de evoluções da receita, com o acréscimo do queijo e outros ingredientes. Contudo, como lembra Pinter, muitos dos portugueses não chegaram a difundir a receita em Portugal, porque não voltaram à terra natal.
Agora, pode-se encontrar facilmente pães de queijo em cafés e pastelarias portuguesas. Grande parte compra de distribuidores, mas há quem faça no próprio local de trabalho. Com cerca de 50 anos de história na Praça da Figueira, o Café “D. João I” está a vender o pão redondinho há seis meses. Os pães chegam congelados, através um distribuidor. “Vieram-nos oferecer, não conhecíamos, resolvemos experimentar e vender. No início teve pouca procura mas, agora, portugueses e turistas de todos os lados consomem”, explica o gerente, José Rocha.
No Centro Comercial Vasco da Gama, o pão de queijo não é difícil ser encontrado. Tanto no “Bagas Café”, como no “Café com Bolo,” pode comer-se o pãozinho. A diferença é que, no segundo, o produto é fabricado in loco, por uma cozinheira portuguesa. Um dos funcionários, questionado sobre o porquê de se vender pão de queijo, diz que há muita imigração em Lisboa e, por esse motivo, a restauração começa a comercializar produtos de interesse dos imigrantes. Apesar disso, diz que muitos portugueses procuram o pão de queijo. “Temos dois clientes que vêm ao Café só para o comer.”
E até mesmo quem não está à procura ou não sabe o que é pode ser surpreendido por um teletexto com uma promoção de um pão de queijo e um café por um preço especial. É o caso da “Casa do Pão”, na Estação do Oriente, que na montra coloca o produto brasileiro há um ano e está a fazer a promoção desde o último Inverno. A supervisora do comércio, Maria Dulce Ferreira, diz que o público alvo está alargado: “Há muitos ingleses que perguntam se temos pão de queijo”.


Distribuidores e fabricantes em Portugal

Em Portugal, há um número significativo de fabricantes e distribuidores de pão de queijo. Custódio Gomes da Conceição, 64, é um dos fabricantes de matéria-prima dessa iguaria. É português e viveu no Brasil 45 anos a trabalhar com produtos alimentícios. Actualmente a viver no Porto está há três anos a fabricar e comercializar o “mix” para sete fabricantes e 16 distribuidores de norte a sul do país. Não muito conhecido pelo grande público, o “mix” é uma mistura de polvilho azedo, polvilho doce, amido de mandioca modificado, leite, gordura, aroma de queijo e sal que facilita a produção industrial do pão de queijo. É uma espécie de farinha, depois é só acrescentar ovos, leite e o queijo propriamente dito. Custódio Gomes da Conceição explica que a mistura foi criada por um grupo holandês pela necessidade de agilizar a industrialização do pão de queijo, em 1987, no Brasil. Segundo o empresário, o “mix” não se encontra nos supermercados e é apenas destinado à produção industrial.
Quanto à historia do pão de queijo em Portugal, Gomes da Conceição explica que no início dos anos 90 muitos brasileiros tentaram criar pequenas fábricas, mas não vingaram. Foi em 1996, segundo o empresário, que houve o primeiro empreendimento profissional por parte de um grupo ibérico. De acordo com o fabricante, não tem sido fácil o investimento, porque o mercado português é conservador, e incutir o hábito de comer um alimento que não faz parte da culinária portuguesa é muito lento. “Na parte centro-sul do país é onde se vende mais, por causa da concentração de imigrantes e turistas, entretanto, no norte encontra-se com mais facilidade e as pessoas já sabem o que é, porque muitos portugueses que imigraram para o Brasil são daqui”.
A empresa Geldouro Produtos Congelados, em Vila do Conde, importa o produto do Brasil, da marca “Primo”, desde 2004, e distribui a nível nacional, para grandes pontos de venda como Continente, Modelo, Makro, El Corte Inglés, Bonjour, Carrefour e Auchan.