terça-feira, janeiro 30, 2007

Casa com casa... vem ao caso...


Sinto falta daquele livro que estava sobre a mesa, que fazia-me pensar e entender o porquê de eu tanto gostar de ler
Sinto falta daquela casa, com cheiro à sexo e com paladar à família
Sinto falta daquele quarto e daquela vista que traziam-me à tona a felicidade
Sinto falta daquela escada, daquele assoalho
Do soar dos seus passos
E da sua queda nos meus braços
Do seu traço na pele
Tudo agora é fé
Mas cá só tenho café
Agora, só quero uma casa com jeito e gesto...
Com mel nas paredes, com sotaque nas luzes e com veracidade no ar
Quero você na casa com jeito e gesto de estátua
Entretanto, ainda sentirei falta daquele livro que estava sobre a mesa
daquela foto que esqueci-me na janela
E dos seus riscos na parede do nosso quarto...
Eu quero uma casa com jeito e gesto
Mesmo que isto pareça indigesto...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Meus documentos: "Minhas subjetividades"

Aquela pasta no computador poderia dizer mais sobre ela do qualquer amigo, familiar ou grupo sanguíneo. “Subjetividades” era o nome daquele arquivo determinado, provavelmente, por algum código que eu queria desvendar; eu desejava clicar para descobrir em poucos minutos o que seria aquela particularidade intitulada por aquela palavra tão curiosa. O que será que aquela pasta continha? Lista das 10 coisas mais importantes que desejava fazer antes da morte? Um manual de instrução, talvez! Isso se fosse eu estaria feito (PENSANDO) Não, mas não poderia ser nada disso, ela não faz esse gênero... Mas “subjetividades”!? Por que dar este nome a um arquivo virtual? Só poderia ser confissões...Mas não era algo tão estranho, afinal se o computador é pessoal e se tem lá em “Meus documentos”: “Minhas músicas”, “Meus livros”, “Minhas imagens”, “Meus vídeos”, por que não criar uma nova modalidade: “Minhas subjetividades”? Era original, tinha-se que propor tal vanguarda para os criadores de softwares. As pessoas passam horas em frente ao PC lidando com uma tela que já passa a ser uma extensão do corpo humano, que substitui seres humanos e cérebros humanos. Mas o que eu queria mesmo era abri-la, penetra-la em seu íntimo, era o tempo, pois ela havia saído rapidamente. Mas e se eu deixasse de gostar dela depois de descobrir o seu íntimo. Não, não... Eu não queria abrir aquele arquivo. Seria uma terrível invasão de privacidade, porém era a minha chance de saber mais, era a minha oportunidade de tirar dúvidas. Estou confuso. Eu quero. Não preciso ler, assim não serei tão mal educado. Posso dizer que abri sem querer. Acontece tanto. Minha mão deslizou... ops... Saberei logo o que contém por ver os ícones e também pelos títulos. Não preciso ler. Cliquei!Ah, ele não havia percebido, a pasta “subjetividades” não era a pasta com o nome mais curioso, ao contrário era a mais simplista e menos excêntrica. Não há nada, não há arquivo nenhum!Totalmente frustrado, mas consolado pela chegada dela, ele pergunta-lhe, intrigado, o porquê de se ter um arquivo com aquele nome e nada nele conter. E ela, como quem já havia previsto o passeio alheio no computador, disse calmamente, sem se alarmar com a indiscrição: simplesmente para eu lembrar-me todos os dias que a minha subjetividade não cabe dentro de uma máquina!

Hoje

hoje é a palavra mais usual do meu vocabulário
a vejo a minha frente na esquina, na tela, na festa, na casa
na sua língua, nos seus olhos, no meu umbigo
hoje fui ao mercado e vi ali o hoje
estive com ele, comprei leite e pão para as crianças
sentei-me na praça e conversei com o hoje
porque hoje nao sabia para onde ir, nem com quem ir
hoje falou-me que o hoje é fugaz
mas que sempre volta amanhã
hoje uso um teclado desconfigurado...

terça-feira, janeiro 23, 2007

Eu Preciso é de rock e não de fado

Eu quero é o teu rock, o teu forte e o teu soco
Não quero seu fado, seu enfado, sua fraqueza
Guerra dos sexos
Cospe-me na cara
Sujo-te a casa
Corrompe-me a alma
Flagela o teu rosto
Mordo o teu osso
Exponho teu fraco, teu fado, o teu enfado
Ao alto do seu engodo
Rasga-me a derme para deixar-me às vistas da hipoderme
Então já vês como sou: nua, sua, pura...
Suplica, fica, limpa
Pega a fita e mede o tamanho da sua mentira
Não suplico, não fico, não limpo
E tua casa continua suja...

domingo, janeiro 21, 2007

O teu cartão de crédito credita meu escárnio, acentua minha loucura
debita o meu respeito, deturpa minha postura
Tuas palavras desceram pelo ralo
e voltaram-se contra a minha sanidade
Ganhei fama de louca
enquanto tu enloqueces a si próprio e às outras
Tua paixão não é efêmera, mas tua mentira é perpétua
Quando queres conquistar sabes bem o que faz
oferece flores vermelhas no inverno
e antes que chegue a próxima estação
já está a procura da próxima insana

domingo, janeiro 14, 2007

Antes...

Antes que o mundo acabe, quero dizer que plantei orquídeas para que ele voltasse a ser como era
Antes que a última lágrima brote permito-me lembrar que as mais belas palavras ritmadas em versos trouxeram-me as primeiras gotas
Antes que os meus olhos se abram verbalizo o meu desejo de apegar a ti assim como o orvalho se junta a relva
Antes que o antes torne-se depois grito ao mundo que não se acabe e nem se deixe acabar...

sábado, janeiro 13, 2007

foi na estação de metro que descobri que ninguém sabe de nada foi no Café que vi as pessoas armarem-se em intelectuais foi no ônibus que constatei a carência absoluta do ser humano foi na escada rolante onde melhor aproveitei o tempo foi em terra pátria que perdi o rumo foi em terras estrangeiras em que vi a canseira sentar-se ao meu lado foi no trem em que vi o amor passar foi no jardim que atravessei o túnel que tem aquela luz no fim foi no dia de hoje que usei de falsas palavras para demonstrar sentimentos verdadeiros