sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Mestre no lápis



Um lápis, uma borracha e uma cartolina são materiais suficientes para que Antônio Rocha do Carmo, o Chibiu, torne belas as coisas mais simples da vida, por meio do desenho


“Desenho, pai de todas as artes”, já diziam os italianos renascentistas, e hoje os traços estão mais em evidência do que nunca, com a ascensão dos mangás (desenhos em quadrinhos japoneses) e da miscelânea que a produção cinematográfica tem feito com essa arte milenar.
A finalidade de um desenho pode ser das mais diversas: um simples esboço de uma tela, uma peça de roupa, uma história em quadrinhos, ou uma série para uma animação, ou simplesmente o puro desenho, por ele só. Tudo que se produz nas artes inicia-se com ele, mesmo que este seja grotesco.
O arcoense Antônio Rocha do Carmo, conhecido como Chibiu, descobriu o ato catártico de desenhar, atualmente, aos 63 anos de idade. A atividade não passava de um exercício profissional, já que a sua formação é “técnica em edificações”. Desde os 20 anos, ele já fazia desenhos arquitetônicos. A revelação de que ele tinha um dom para o traço artístico se deu de forma inusitada. O desenhista estava trabalhando na construção do poliesportivo de Itapecerica, e foi quando, por pedido do prefeito da cidade, ele fez um desenho da obra terminada. O entusiasmo tomou conta de Chibiu ao ver uma produção sua sendo admirada pelos moradores da cidade. Nessa época, ganhou uma prancheta de um amigo engenheiro e desde então não parou de retratar a realidade por meio do lápis.
Outra fase que acelerou a sua produção artística foi uma série de problemas pessoais que enfrentou. Ele lembra que foi nesse período, que a inspiração surgiu e que começou a criar com intensidade. As suas primeiras retratações foram de idosos, pela grande expressividade facial que eles demonstram. “As rugas, as marcas que a vida nos imprime me chama a atenção, eu tenho um monte delas, e por isso gosto de mostrá-las”, explica.
Porém, Chibiu diz não ter predileções por certos tipos de desenhos. Gosta de retratar tudo e todos. Inclusive, suas obras têm chamado à atenção de quem às vê, por seu traço livre, firme e por mostrar com precisão imagens de Arcos, como casarões antigos, ruas, praças e igrejas que fazem parte da historia da cidade. Esses desenhos estiveram expostos na Casa de Cultura durante todo o mês de julho.
O traço pode nascer de uma percepção pessoal ou se basear numa imagem impressa. Quando o desejo de desenhar surge espontaneamente, Chibiu senta em frente ao monumento, procura o ângulo adequado e risca no papel as delimitações grosseiras, sem uma perspectiva. Ao chegar em casa, ele se retira para uma casa antiga anexada a sua, que utiliza para trabalhar. Lá, numa cartolina 40 X 60, com um lápis preto, número 6B, de ponta quadrada e uma borracha a disposição, ele começa a desenhar as suas impressões, todos em preto e branco, cria a luz, a sombra, ate dar forma ao “imaginado”. “Eu sou apaixonado com o preto/branco; de uma gradação mais escura, vou para uma penumbra, chego num reflexo ate num clarão”, descreve o desenhista.
Quanto à predisposição e influências para desenhar, Chibiu afirma que não existem empecilhos, nem parâmetros. Sempre está disposto a criar e com um estilo próprio, único, sem modelos. Ele conta que pode levar até quatro meses no aperfeiçoamento de um desenho, por ser detalhista. Se estiver se dedicando exclusivamente a um trabalho, termina em um dia, mas ao rever a obra percebe imperfeições e sente falta de detalhes que fazem toda a diferença.
Chibiu ri de si mesmo ao perceber que descobriu o amor pelo desenho artístico na idade em que está, e da uma dica para aqueles que têm medo de se entregar à arte. “Devemos dar valor ao que produzimos e investirmos nisso”. Ele lembra que não dignificava os seus desenhos e nem os mostrava para ninguém, e que a partir do momento que se integrou a Associação de artesãos de Arcos, as pessoas começou a elogiá-lo, o que despertou a vontade de se tornar profissional.
O desenhista conta que já recebeu encomendas da prefeitura de Formiga para fazer desenhos de imagens da cidade, para enriquecer o acervo do museu do município.
Além de desenhos em cartolina, Antônio também pinta em telas. Para ele, o desenho e a pintura são indissociáveis e devem andar de mãos dadas. “Gosto de pintar tudo, natureza morta, pessoas, tudo que eu vejo gosto de retratar. Quando estou pintando, sou absorvido pelo o ato, é uma coisa da alma”.

4 comentários:

Anônimo disse...

MUITO LEGAL AS REPORTAGENS, PRINCIPALMENTE A DO "HOMEM DO ALGODÃO", ELE REALMENTE É PEÇA RARA NA CIDADE...
ABRAÇÃO PRA VC CLAUDINHA

Anônimo disse...

Minha amiga arrasa como sempre. Adorei o texto, perfeito! Coloca coisas sobre ciberespaço aí amiga, to ficando interessadíssima nisso graças a Filó! E viva a sociedade em rede!!!
Beijinhos!

Anônimo disse...

Legal, Claudinha! Gostei muito dos textos. Vc como sempre é um sucesso! Abraços

Anônimo disse...

Claudissima!!! sempre arrasando em seus textos... Reportagens simples mas q encantam qdo lemos... Minha amiga, ja tens capacidade para escrever um livro.... Faça acontecer!!
Um grande bjo e q so aconteça coisas boas na sua vida querida!!!
Abraço forte, sarah....