sexta-feira, junho 22, 2007

ENTREVISTA: "Quero produzir o primeiro filme porno português com qualidade internacional"


Não há vídeos pornográficos em Portugal que possam ser chamados filmes. Mas há muitos consumidores em Portugal, porque até os vídeos amadores se vendem muito. Liz Vahia diz que quer fazer o primeiro filme pornográfico português com qualidade.


Liz Vahia é uma jovem de 28 anos. Lisboeta, tirou o curso de Antropologia na Universidade de Coimbra em 2002. Faz produções culturais em teatro e cinema, escreve sobre Arte Contemporânea, esporadicamente, para a Revista “Afinidades” da reitoria da Universidade do Porto, já escreveu para a “arteciência” e vai começar a escrever para “Arte Capital”, a partir de Julho. Autora da performance “passeia-me”, encenação que joga com a linguagem Sado-maso, não é conservadora e assume que é uma consumidora de pornografia desde a adolescência, sem ser censurada pelos pais. Tanto que começou a sentir-se incomodada com a má e quase inexistente produção cinematográfica porno em Portugal. Agora quer produzir o primeiro filme porno profissional português com qualidade de exportação, em conjunto com o amigo e programador de cinema, Sérgio Marques; porque acha que pode fazer melhor do que é comercializado actualmente: os vídeos amadores feitos por casais. Precisam de dinheiro e sobretudo de actores que, segundo ela, são difíceis de conseguir, porque há muitos que se interessam, mas não dão a cara. O cineasta Stanley Kubrick tentou produzir um filme porno de qualidade e não conseguiu por causa dos entraves sociais, Liz vê-se na mesma situação, mas vai à luta e já agora na terceira edição do Salão Internacional Erótico em Lisboa, de 21 a 24 de Junho, terá um stand, a fazer casting para selecção de actores e a divulgar o filme.

Cláudia: Como surgiu o interesse pelo filme porno?

Liz: Quando estava a tirar Antropologia pensei em ter a indústria pornográfica portuguesa como tema da tese de licenciatura. O meu interesse efectivo deu-se em 2005 quando um amigo, programador de cinema, me propôs fazer um ciclo de cinema pornográfico, com o intuito de um festival comum, que toda gente fosse ver. Entretanto, foi durante a pesquisa que constatei que não há produção pornográfica em Portugal.

Cláudia: Mas há alguns, como o Sá Leão....

Liz: Há algumas distribuidoras que lançam alguns vídeos, mas chamar “filmes” àquilo é um favor muito grande. Sá Leão é o mais conhecido, porque é mediático, teve uma saída na televisão. Há um outro realizador que assina PAC. A maior parte dos filmes não são assinados, são produções amadoras. São casais que possuem alguma fantasia sexual, convidam amigos, filmam e vendem o produto bruto e os direitos todos sobre o mesmo às distribuidoras por cerca de 700 contos (3.500 euros). Aquilo é montado às três pancadas...

Cláudia: E por que é que as coisas funcionam assim... Não há consumidores de pornografia em Portugal?

Liz: Muitos, mas não dão a cara. É por isso que o cinema pornográfico não avança. Se aparece a palavra “sexo” em alguma cena particular logo os bilhetes se esgotam. Por exemplo, no Indie apresentou-se um filme que tratava da história de um pornógrafo. Uma semana antes já não havia bilhetes. As pessoas têm uma reacção estranha, se um personagem bate uma punheta, as pessoas riem-se quando não tem graça. Assumem uma posição de deboche, tipo “estou aqui por uma questão cultural, sarcástica”. Sentem-se desconfortáveis em ver cenas de sexo. Vão, mas com aquela capa cultural, de que estou aqui, mas acho graça nisto tudo.

Cláudia: Qual é sua avaliação dos poucos filmes portugueses que estão no mercado?

Liz: Para um filme porno ser considerado bom, às vezes nem é uma questão de argumento, é preciso ter no elenco gajas bonitas, com corpos voluptuosos. E os filmes portugueses não tem sequer actores profissionais. As histórias são forçadas, são colagens. Alguns tentam algumas narrativas baseadas em fetiches e insistem nos clichés das relações proibidas, como o sexo com o vizinho, com o canalizador que vai a casa, patrão-empregada, professor-aluna...Não há profissionalismo. Os poucos vídeos são retratos de fantasias de casais que são filmados no espaços das distribuidoras. Vê-se as prateleiras com filmes e livros; arredam as mesas, metem os colchões no chão. A qualidade de imagem é horrível. E na maior parte das vezes o gajo que está a filmar faz comentários. Vejo com um comando na mão.

Cláudia: E isto vende-se?

Liz: Sim. Porque as pessoas têm curiosidade em ver que são portugueses, constatar que são pessoas que podem ver na rua. Mas compram um, porque custam caro a volta de 20 euros. Compram, acham piada e depois não consomem mais.

Cláudia: E estas pessoas que fazem os filmes podem tornar-se actores?

Liz: Mesmo que queiram tornar-se profissionais não há produção para eles, só fazem um filme ou dois e depois desaparecem. Não existe a vontade de se tornar uma estrela porno. Ganham tipo 700 euros por dois dias e ficam satisfeitos. Mas acredito que há pessoas que queiram, porém as produções não se interessam em profissionalizá-los, porque não têm o intuito de produzir filmes com qualidade técnica.

Cláudia: Qual a importância do filme porno?

Liz: Quando eu fiz entrevistas aos consumidores de pornografia, houve um gajo que me disse que o cinema pornográfico era bom porque lhe permitia fantasias instantâneas. Era só ter o comando à mão, clicar, e já ficava a excitar-se. Eu gostei, porque é uma visão muito prática. É uma relação muito normal com a pornografia, como algumas pessoas chegam a casa e vão ver telenovela, algumas pessoas chegam a casa e vão ver pornografia. Deve ter alguma importância, desde o momento que surgiu a fotografia passaram a surgir imagens pornográficas, e aconteceu desde o surgimento da câmara.

Cláudia: Acha que os filmes pornográficos têm alguma importância no sentido de ensinar as pessoas como o sexo é, ou como se deve fazê-lo?

Liz: Isto é uma questão que se pode ver por dois lados. Os produtores ao princípio buscaram este argumento que tinha um médico de bata branca a explicar as cenas, daí veio o termo “filmes para adultos”, partindo da ideia de que sexo deve ser ensinado aos adultos. Mas por outro lado, o sexo mostrado em filmes pornográficos não corresponde à realidade porque é artificial e exagerado. As pilas e as mamas dos personagens são muito grandes; é tudo muito abstracto, não há história. Aquilo está feito para o espectador ver melhor e não para eles terem prazer um do outro. .

Cláudia: Qual a importância de se fazer um filme porno português?

Liz: Acho tão mau o cinema porno português que me senti impulsionada, junto com o Sérgio Marques, a fazer algo melhor, com qualidade. Além disso temos o apoio de amigos que são profissionais do cinema de renome e ofereceram-se para produzir o filme de graça. Já temos a equipe de produção montada, só precisamos da equipe artística (os actores).

Cláudia: E o que caracteriza um filme pornográfico de qualidade?

Liz: Muito discutimos (equipa de produção) sobre isso e não chegamos a um consenso seguro. Mas o que se pode dizer basicamente é que é necessário bons actores e boa iluminação.

Cláudia: E como vai conseguir os actores?

Liz: Este é o nosso objectivo, entre outros, com o stand no Salão Erótico em Lisboa, conseguir actores, divulgar a ideia do filme e conseguir dinheiro para a produção. Não precisamos de muito, 10 mil euros já chega para fazer. Nós temos o Festival Internacional de Cinema Erótico de Barcelona (FICEB) que se propôs a apresentar o filme com toda pompa e circunstância.

Cláudia: Como vai funcionar o stand no Salão Erótico?

Liz: O nosso stand, em relação aos outros, vai ter uma estrutura fechada. Vamos ter uma espécie de mesa, passaremos um vídeo com trailer sobre o nosso filme, e também vídeos de artistas portugueses que trabalham como pornografia. As pessoas interessadas em fazer o casting vão passar por um teste de imagem e responder um questionário escrito.

Cláudia: Quantos actores são necessários?

Liz: Para ser um bom deve ter no mínimo 5 mulheres e 4 homens. A média é 5, 6.

Cláudia: Do que se trata o filme?

Liz: Temos dois guiões; o primeiro é a historia de um homem e uma mulher num cenário futurista que recebem uma missão para eliminar uma raça alienígena, a qual tem aparência humana e única coisa que os distingue dos humanos è um chip na pila. A ideia era filmar isto em edifícios assim que tem uma traça mais moderna, como os da expo.
O segundo aproveitamos a ideia dos quartos de um hotel, onde em cada quarto se passa uma história. Não quero falar muito sobre esta segunda ideia porque, provavelmente, é a que vamos fazer.

terça-feira, junho 19, 2007

Procura-se estrela porno portuguesa



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Em breve, aqui no blog, a entrevista em exclusivo, com a produtora cultural, Liz Vahia, sobre cinema porno em Portugal. Aguardem...