quinta-feira, março 16, 2006

História do Carro de Som: a 'voz do povo' em Arcos

Quem mora em cidades de interior já está acostumado a ver e ouvir os carros de som que anunciam desde produtos e promoções comerciais a perdas de bens pessoais e notas de falecimento. Mas geralmente quem vive em grandes centros não está habituado com tal cena, justamente pelo fato de o carro de som ser uma alternativa publicitária de municípios pequenos e, portanto, desconhecido nas metrópoles.
Foi tal fenômeno de comunicação regional que motivou as alunas de publicidade e propaganda da PUC Minas Arcos, Maria Cristina Oliveira, Sandra Patrícia Ramos, Gabriela Carolina Campos e Vilma Celina da Silva a fazerem uma pesquisa sobre a eficácia e história do carro de som em Arcos. As pesquisadoras fizeram o levantamento histórico, a partir de entrevistas com o professor arcoense Humberto Soraggi Filho, com o taxista e pioneiro do carro de carro na cidade, Pedro Antônio dos Santos e a com a esposa dele, Lázara dos Santos. Todas as informações foram condensadas no artigo científico “O carro de som como mídia alternativa eficaz no Oeste mineiro”.
Assim como elas relatam no artigo, a utilização da radiofonia em Arcos começou nos anos 50 do século XX, com a Amplificadora Vitória, cujo proprietário, João de Melo Sobrinho, era mais conhecido como “Zé da Bicicleta”. A estação possuía uma programação musical, com oferecimentos aos ouvintes, anúncios e momentos reservados para os “inflamados” discursos políticos da época. A rádio funcionava por meio de alto-falantes que, estrategicamente posicionados, alcançavam uma grande distância. As transmissões eram encerradas todos os dias ás 21 horas com uma antiga música chamada “Sinos do Havaí”. Os textos publicitários eram feitos pelo próprio João de Melo, conforme os interesses do anunciante.
As estudantes referem-se à importância da igreja católica no desenvolvimento da comunicação via amplificadores. Na década de 50, Padre Domingos empregou o alto-falante para propagar músicas religiosas e avisos de missa. Um fato super curioso na época eram os avisos de falecimentos, anunciados pelos toques dos sinos. Quando o toque era agudo havia morrido uma mulher, caso o som fosse grave, o falecido era um homem. Ao tocar dos sinos, as pessoas já se perguntavam: “Os sinos estão tocando... morreu alguém... quem será?”.
Os anúncios de falecimento e missa de sétimo eram noticiados também nos boletins. Após algum tempo, o informativo foi substituído pelo serviço de alto-falante volante. Hoje é realizado pelo carro de som.


Precursor e pioneiro


Um dos precursores do carro de som em Arcos foi uma figura famosa dos moradores antigos, conhecido pelo apelido de “mudinho Baguega”. Toda terça-feira, dia tradicional de exibição de filmes no cinema (algumas vezes às quintas e sábados), ele pendurava nas costas, um cartaz com o nome do filme e determinadas cenas impressas, parava nas esquinas e gritava com um megafone: “o bague, bague, bague, baga, bague baga hoje”. Por não pronunciar as palavras corretamente, a única palavra que se entendia era “hoje”, portanto, as pessoas que se interessavam por cinema eram obrigadas a correr e ler nas costas o nome do filme que seria exibido.
Já na década de 70, iniciou-se a adaptação dos altos-falantes nos carros. O pioneiro no ramo foi Pedro Antônio dos Santos, o “Pedro do táxi”, junto a sua família. A esposa dele, Lázara dos Santos lembra que no início eles começaram a anunciar num carro muito antigo, chamado Aero Willys e, em cima, as cornetas Delta. Segundo Lázara, o primeiro comercial foi uma propaganda da Celeta Móveis, loja de Formiga. “Compramos uma caixa pequena de som e, todos os dias, eu ajudava o meu marido a colocá-la e tira-la do teto de um fusquinha”. Depois de um período, Lázara lembra que ampliaram o negócio ao comprarem uma caixa maior, uma belina e caminhonetes. As gravações eram feitas em fita cassete, posteriormente em MD (um pequeno CD) e, atualmente, em CD.
Um fato que comprova a eficácia do carro de som é um acontecimento que Pedro sempre conta; um idoso precisava fazer uma cirurgia e não tinha condições financeiras, então contratou o carro de som para solicitar ajuda ao povo da cidade. Fizeram gravação original, com a locução do solicitante. Os dois saíram juntos pelas ruas. O valor arrecadado foi dez vezes superior ao que ele precisava.
Hoje, depois de 32 anos de empreendimento, tem três carros de som e é seu filho mais novo quem dirige os automóveis.

2 comentários:

gelson disse...

ola... parabens pala materia gostei muito
sou de erechim rs e tenho uma empresa de carro de som
gostaria de dizerte que nosso trabalho segue em constante evolução augo inevitavel com a modernidade fico pensando como sera daqui alguns anos..
abraço,gelson barbosa upper comunicação.

Anônimo disse...

Não esqueçam de citar a Radio Difusora Vitória na voz do Vivi do Bar Triângulo.
Obrigado parabéns pela matéria.