quarta-feira, agosto 30, 2006

Relatos de Viagem 1

Cá estou eu do outro lado do Atlântico a viver umas peripécias e a provar do melhor e do pior que há em mim mesma. A partir de agora este Blog ganha novos contornos e significados que vão se alinhar ao longo do tempo e das minhas andanças. De um carácter jornalístico ele passa a ter um enfoque subjectivo, entretanto, banhado pelo factual. Portanto fiquem atentos.
A viagem se deu no dia 28 de julho e desembarquei no dia 29 em Portugal, numa manhã ensolarada de sábado. O primeiro mito a ser quebrado: no serviço de imigração no aeroporto não me repudiaram nem me trataram como uma prostituta em potencial. Segundo mito quebrado: ao sair do aeroporto para a rua não sofri de uma overdose visual por estar pisando pela primeira vez em solo estrangeiro. É claro que sofri um impacto e na presente data tal estranhamento é real, mas isso tem sido de uma forma gradual e natural. E hoje faz 31 dias de degustação e turismo. É, turismo, pasmem. Ainda não peguei na enxada.
E acreditem, nada melhor do que viver a própria experiência, sem ser acometido por uma espécie de comodismo por ouvir descrições mal sucedidas ou preconceitos exacerbados, isto porque tenho me dado muito bem com as situações.
Logo no dia da minha chegada tive a oportunidade de participar de uma "Sardinhada", um prato típico português (publico aqui a receita caso algum compatriota se interessar), em que se assa a sardinha em sua forma natural na brasa. Logo, ainda ensonada e em estado de anestesia, depois de nove horas de vôo, no contato interpessoal com autênticos portugueses fui atiçada pela primeira alteridade: ao cumprimentar todos estendi-lhes as minhas mãos e em súbito pediram-me os dois beijinhos nas maças do rosto. E já tiveram pressa em informar-me: “Cá não existe isso de aperto de mãos, mas sim beijinhos”.
Depois de retirar peça por peça das minhas malas fui acometida pelo primeiro sentimento de nostalgia ao achar cartas de amigos, que por sua vez uma delas muito me admirou por ter sido colocada em oculto na minha bagagem e isto se revelava nesta primeira frase: “Espero que ao ler esta já esteja em Portugal”. Isto, porque dois dias antes de partir de Arcos minha casa ficou repleta de amigos e conhecidos e despropositadamente minhas malas ficaram expostas a todos que embrenharam-se no meu quarto. Entretanto foi benéfico, porque as palavras foram bem confortantes.
Entretanto, como estava a dizer, desfiz as malas e fui convidada para o almoço. Pronto, não comi sardinhas, meu paladar não estava acostumado com peixes e resolvi adiar a experiência gastronómica. Comi mesmo arroz com febras (bife de porco) acompanhado por uma salada de tomates e alfaces. Após a refeição vespertina, tentei dormir para repor quatro noites mal dormidas. O máximo que me aconteceu foi um sono breve e ao acordar a sensação de “onde estou?”.
No dia seguinte fui a uma igreja evangélica que só tinha brasileiros e a sensação foi mesmo estranha. Parecia-me que estava no Brasil, como também me senti nos shoppings centers, e não gostei da impressão de estar “em meu país” em uma terra estrangeira”. E diga-se lá de passagem os centros comerciais foram os primeiros lugares por quais passei, claro que não por vontade própria, mas por um condicionamento inevitável. Mas que como de tudo se tira proveito pude perceber logo que os shoppings são todos com infra-estrutura de primeira excelência e as pessoas não se sentem na obrigação de se arrumarem com esmero para irem a um centro comercial, como no Brasil. Em Belo Horizonte, se vão ao Shopping Cidade vestem-se informalmente e se vão ao Diamond precisam colocar o seu melhor terno de roupa.
Nos primeiros dias em casa dos meus anfitriões me senti com uma personagem. A senhora do segundo andar olhava-me como se fosse bicho do mato, meteu-me medo. Posteriormente fiquei a saber que ela não gosta de pessoas pretas. Aí sim, comecei a me ver como o Raskólnikov de Crime e Castigo. E também já perguntaram se eu era a empregada da casa em que estou hospedada, aí pode ser tanto pelo fato de ser brasileira como pelo fato de ser negra.
Entre saladas de polvo, tomates, mariscos, pães e azeitonas tive meu primeiro papo em direto com jovens portugueses, no Algarve.
Já em Lisboa provei o cálice do cosmopolitismo a uma mesa com franceses, espanholas, um cabo-verdiano, uma argentina, uma chilena e uma brasileira. No presente momento já me integrei ao grupo por meio de uma amiga. E cada dia que passa mais heterogéneo o meu olhar fica…
Só para se situarem, eu já estou a trabalhar em Lisboa e moro em Porto Salvo, que fica na Grande Lisboa... Acostumei-me a ver o mar a balançar e a ver grandes aviões a voar...

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, como sempre vossa senhoria dança com as palvrs e o resultado da valsa é uma prazeirosa leitura de quem a vê. Fico feliz demais de todas suas experiências terem sido o oposto das minhas. Graças a Deus. Espero que sua nova empreitada no restaurante seja de grande aprendizado, e por favor não pare de nos presentiar com tão belo relato de viajem. bejinhos. outra coisa, não se esqueça de que a maioria das pessoas que leêm seu blog são brasileiros, então fazx favore, escreva em "brasileiro". inté!!!

Anônimo disse...

Viver numa grande cidade já é uma experiência, digamos, "globalizada". Não que Arcos não possa receber esse adjetivo, mas antes de "globalizada" a nossa terrinha, e aqui estou falando da terra arcoense, é provinciana demais.

Viver num país que está no "eixo" mundo, que é a Europa, é mais globalizante ainda.

Aproveita! O mundo é grande e a vida é pouca. Então só vivendo intensamente para conhecer uma boa parcela de tudo o que temos para ser testemunha.