quarta-feira, dezembro 09, 2009

Uma ponte lisboeta no Oceano Atlântico

Caetano Veloso esteve em Lisboa para falar sobre o livro pessoano ''Mensagem''. Mas acabou recaindo na polêmica que envolve sua declaração a respeito do presidente brasileiro.

Crédito foto: Elena San Martín

Existe uma ponte invisível que liga Lisboa ao Brasil. De repente, não mais que de repente, parece que estão todos cá, do lado europeu do Oceano Atlântico, muito mais acessíveis aos portugueses do que um dia poderiam ser aos brasileiros, devido à pequena dimensão geográfica deste país. É que Caetano Veloso veio a Lisboa e pude vê-lo falar sobre a influência do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, no Tropicalismo. Ele esteve na Casa Fernando Pessoa, com entrada livre, na última sexta-feira, o mesmo 04 de Dezembro em que Gal Costa apresentou-se no CCB (Centro Cultural de Belém), uma das mais importantes instituições culturais portuguesas. Não chegamos a ver Gal, mas não deixa de ser curioso pensar esta ligação entre os dois países, como se estivéssemos num só lugar. Afinal, Gal Costa estreou como cantora ao lado de Caetano Veloso há 45 anos. Os ares quentes do verão brasileiro também vieram aquecer o inverno de Lisboa através de Edson Cordeiro (concerto também no dia 4), por sua vez, cantor integrante da programação do Centenário do Nascimento da luso-brasileira Carmen Miranda (considerada a precursora do Tropicalismo), comemorado pelo Teatro Municipal São Luís, situado na bela Baixa lisboeta, na segunda rua à esquerda do tradicional Café chamado “A Brasileira”, onde está a famosa estátua de Fernando Pessoa.
À parte de todas essas ligações congruentes, Caetano Veloso, ao lado do poeta e filósofo brasileiro Antônio Cícero, inaugurou naquela noite o ciclo “Livres Pensadores”. A conversa foi mediada pela directora da Casa Fernando Pessoa, a escritora e jornalista Inês Pedrosa. Caetano não cantou, nem sequer assobiou. E a mensagem sobre a influência de Mensagem no Tropicalismo, movimento cultural que revolucionou a música brasileira no fim da década de 60, parece não ter ficado muito clara. Tanto Caetano Veloso quanto Antônio Cícero leram os próprios textos, em vez de discursarem. A espontaneidade só veio à tona quando Inês Pedrosa abriu a conversa ao público. O que parece ter ficado límpido, manchete em blogues de jornalistas portugueses, foi o facto de Caetano Veloso ter se defendido, sem ninguém tocar no assunto, da polémica na qual foi implicado por ter se referido a Lula como analfabeto.
Numa sala superlotada, iluminada pelos flashes - sublinho que a entrada era livre -, com uma outra platéia no andar de baixo a ver a sessão num projetor, o músico baiano, num tom de redenção, disse: “Era algo realmente algo feio de se ver na primeira página do jornal. Feio, porque primeiro não é verdade factual: Lula não é analfabeto. Segundo, porque esse tom me parecia semelhante ao tom grosseiro que tanto me desagrada na nova direita que faz sucesso nos media”.
Caetano disse não estar interessado em corrigir a “edição sensacionalista das suas palavras. Estava mais interessado em quebrar o tabu de em certas rodas, amplamente majoritárias, estar proibido dizer-se mal de Lula”.
Mas o momento de lavar a mancha com água sanitária emerge quando o músico proclama: “à luz tropical do sebastianismo de Pessoa via Agostinho (Agostinho da Silva), Lula surge a meus olhos como uma figura de grandeza histórica e épica. Uma grandeza do tipo épico em versos líricos que se encontra em “Mensagem”. Sinto ternura, simpatia, amor pelas figuras que pareçam carregar a tocha dessa caminhada em que me descobri implicado desde menino”.
Depois de esbanjar em palavras, Caetano volta a dizer que não imagina com facilidade um outro lugar no mundo onde o Presidente não domine a língua oficial do país, que “nem sequer concorde os artigos com os substantivos” e ainda seja louvado pela nação. “Nem na Argentina, nem na França, nem nos Estado Unidos, nem em lugar nenhum”. Fechando com palavras de ouro, Caetano considera o facto um sinal de “originalidade brasileira”, que vem de “sermos portugueses, de termos sido colonizados dessa maneira que agradou ao Gilberto Freyre”.
O debate com a platéia ainda trouxe à tona outros assuntos polêmicos. O tempo da palestra já se estendia para além daquilo que os organizadores previam. Inês Pedrosa, para finalizar a conversa, fez uma chamada geral: “temos de ir, porque temos de ir ver a Gal no CCB”.

quinta-feira, julho 16, 2009

Commentary: Men versus Women

The disparity between men and women has been discussed at length over the centuries. And everybody knows the main differences about that. Of course, when we talk about clichés.
Men are more practical than women; meanwhile the latter are more emotional, better cooks. But, I think it has changed little by little. Or maybe it was never the truth. For example in some cases, when men become widowers with children they can develop or just put in practice some skills before an only attributed to women, like multi-tasking. He has to work and look after the children and to manage the house about cleaning and shopping. And this situation can happen with women as well. They can become “the man of the house”.
Maybe this difference doesn’t exist or doesn’t matter, because we all are different.

sexta-feira, julho 03, 2009

“O senhor está, obviamente, arrependido? Não está?

Manhã de sexta-feira. Primavera, Lisboa, sandálias e pernas de fora, mas estamos no tribunal. Favor desligar os telemóveis. Vamos ouvir o arguido? Pergunta a juíza aos colegas. À direita dela está o procurador do Ministério Público, à sua esquerda o advogado de defesa, e à sua frente, o acusado. Atrás do acusado, o ofendido.
Está composto o palco na sala do tribunal. As audiências são abertas ao público, que pode se acomodar nas cadeiras de madeira, iguais às cadeiras, nas salas de tribunal, vistas por mim no Brasil. Parece que é uma decoração de interior das salas de tribunal tradicionalista em todo mundo.
O julgamento está a iniciar, proclama a juíza. Ela com ajuda do escrivão, metodicamente, pede ao acusado que permaneça em pé e diga o nome próprio, data de nascimento, naturalidade, profissão, ordenado, morada, estado civil, número de filhos e se tem casa própria e se não, qual é o valor da renda.
A juíza lê o processo e em seguida indaga ao acusado se aquela acusação é verídica. Este é o momento crucial do julgamento, que pode terminar por ali, ou ser levado adiante, por dias e meses, caso o acusado negue. Naquele dia, muitos confessaram que estavam a conduzir embriagados e alguns negaram acusações mais graves.
Em uma pergunta indutiva, em tom religioso e a roçar à repreensão maternal, a juíza novamente interroga, quando o acusado confessa:
- “O senhor está, obviamente, arrependido, não está? E a resposta de um deles é:
- Claro que estou, tenho muita vergonha, tanto que minha família nem sabe que estou aqui!
E, com uma expressão sorridente e de catarse por cumprir a função de controlo social em um Estado de Direito, a juíza vira-se para o procurador e para o advogado de defesa, e lhes pergunta se querem pôr alguma questão ao acusado.
Uma nova acusada aparece em cena. É uma moçambicana que estava conduzindo embriagada. Depois do mesmo ritual repetido em todas as audiências, com as mesmas perguntas e frases, a juíza pergunta à acusada, porque aquilo aconteceu.
A incriminada com muita clareza e firmeza na voz explica que não costuma ingerir bebidas alcoólicas, porém, naquele dia fatídico estava comemorando na casa de um dos seus amigos a conclusão de um curso. Estava feliz e a beber uns copos. Resolveu ir para casa e quando de repente perdeu o controlo do carro, atirando-se contra outro automóvel.
Após ouvir a narrativa da acusada, a juíza pergunta-lhe:
- “A senhora, obviamente, está arrependida, não está?”
- “Estou sim.”
- “Pronto. Vou poupar-lhe de qualquer leitura de sentença. A senhora receberá a sentença em casa por correspondência.”.
Aqui, é claro que simplifiquei o complicado discurso da juíza que é pomposo e bem elaborado. Poderia dizer que é melodioso, por ser repetido várias vezes. Isto, digo eu, depois de ouvi-la durante duas horas a repetir as mesmas palavras.
Nova audiência é iniciada, o acusado de fato e gravata entra em cena, juntamente com a advogada loira. Entretanto, após o vai e vem do escrivão, a juíza pronuncia:
- “O ofendido não compareceu. Está encerrada a audiência”. Aquilo, pareceu-me uma peripécia, típica das telenovelas. Estava à espera de um caso mais alarmante que desse uma boa crónica, porque até aquele momento tinham passado por ali pobres coitados que tinham bebido além da conta e fizeram mal em conduzir embriagados. Porém aquele acusado pareceu-me altivo por demais e tinha um charme proveniente de criminosos. Achava, por isso, que seria uma bom caso, mas adiado foi. Que pena!

segunda-feira, junho 29, 2009

Bull Island Beach in the north of Dublin - Foggy Day


Yesterday I went to the beach. Can laught, but I didn’t go to swim or to stay under sunshine. I only went to there to see one more time the beach in Dublin in the summertime. It was completely foggy, I couldn’t see the sea. I felt as if I was entering the heaven or into cloud. But, at least I touched sand and saw how Irish people enjoy the beach on the really foggy day. Take your towel, put it on the floor, play with your kids and be happy! That's all! No sun, no sea, no suncream(I could say no ice-cream also, but surprisingly someone was selling ice-cream), no tan, no beach!It was strange experience for me!

sábado, junho 13, 2009

Week's Word: Alterity

Sometimes we need to keep away from our native land to know things about ourselves, and about the “other”. It is called “alterity”, according to wikkipedia, “is a philosophisical term meaning ‘otherness’ strictly being in the sense of the other of two (latin alter)”. In other words, the alterity experience take us realize that never would have imagined or seen, due to our difficulty to fix attention or curiosity in simple things that is familiar for us.
I like this term, because I’m abroad almost three years and at the moment is the best term for defining my experience in Europe. I came from the so-called Third World(maybe not) for the First World(maybe yes) on 29 July 2006, specifically in Lisbon.
I really had a great alterity experience. The first one was the way to say salute with two big kisses on the cheeks. So, if you find ten people in the same time you have to kiss each one. Oh, my God, In Brazil I just used to kiss my friends. Besides this, I discovered bad things about me like selfishness and individualism. That time was my first contact with myself out my country. Another alterity experience happened when I met Brazilian people; It went like if I had looked myself on the mirror. I could see the likeness among us.
I left Lisbon one month ago and now I’m in Dublin. It is strange, because I have seen more likeness than difference. Fortunately, Irish people is outgoing, but is crazy to cross the street like my people; what's more the bureaucracy doesn't working. Also is a new experience about Brazilian people, because I’m trying to talk to them only in English.

And why am I talking about this word, Alterity? It is just a introduction to speak about a book, which name is “My Inventend Country - a nostalgic journey through Chile”. The author is a woman Chilean, Isabel Allende that has lived in the USA a long time. She became famous with your the first novel “The House of Spirits” (1982), in 1993 this book was adapted into a film, starred Jeremy Irons, Meryl Streep, Winona Ryder and Antonio Banderas.

The text continues next post...

domingo, junho 07, 2009

“Silenciados” – A Play of the "Dublin Gay Theatre Festival”


Last May we had in Dublin the international “Gay Theatre Festival”, wich Oscar Wilde was kind of "flag". I went to watch a play with my housemates, a French girl and a Spanish girl. We were expecting to see something in English, but when I caught the program I read “Silenciados” (Physical Theatre) in Spanish. Silenciados? They don’t speak, because is physical interpretation… My friends burst in laughter. For few minutes we were frustrated. But, we had bought our tickets… We did not have choice. But, I must say that was a great experience, because this play used to a homosexual topic to make us think about discrimination, hypocrisy and difference in our life.
First, five handsome men are lying down on the stage covered for a big transparent plastic. The soundtrack begins very loud with Muse song “Butterflies and Hurricanes”. They left the plastic as if they were born at that moment. We could feel their excitation. This feeling was kept inside us during all the play. It is energy, sexual and real.
There were on the stage five characters: "a prisoner 1985 in Auschwitz, caught in a Pink Triangle; Octavio Atuna is a gay activist killed in a small town in 2004; Jesus Prieto is a gay Christian who is struggling with his religious and sexual identity; Paulina is a Guatemalan transsexual and the last one is Mateo Rodriguez, a victim of bullying".
Each one has his time in this play. And sometimes one actor use the own stage to change his clothes, you can see his back part naked. I think is an intentional way to make us realize how our body is natural , it is not something forbidden.
Silenciados is directed by Gustavo Del Río (director of Sudhum Teatro in Madrid) who also performs in a piece devised by the ensemble. The others actors are Pedro Martín, Juan Caballero, Nicolás Gaude, Rubén, Mascato and Samuel Valverde.

sábado, junho 06, 2009

Commentary about the law “Topless sunbathe banned” in Brazil

In my opinion, this law “feeds” the hypocrisy of the Brazilian culture. You can show almost parts of your body, but not all. You can’t do sunbathe topless, but you can arrange your bikini just to cover your nipples. I mean, this law is false, because it doesn’t have function. Is obscene to show your breasts? Why can you show your bottom with smaller under two-part bikini? Is it less indecent? I don’t think so… Is it to protect children; I don’t think so, because they are watching worse things on TV. I agree with “we believe in the right to show our bodies”. It is obvious, Brazilian people are already doing during at “Carnaval Party”. It’s really warm country!

My first sunny weekend in Dublin

Last Friday (29th May) it was a really great temperature, about 20 degrees. I was hopeful that I would have a good weekend with sunshine, and to wear a dress and sandals. But, something that I hadn’t imagined happened. I was going down stairs and suddenly I fell down the stairs in my house and hurt myself. I got a swollen-foot, I couldn’t walk. Unfortunately, I had to spend all day in my bedroom last Saturday. I have fallen down stairs before, but I have never hurt myself. This time I injured myself because I had my laptop in my two hands and I didn’t drop it. So, you know…
After two days I went to hospital. The secretary asked me where I was from and said to me: “Because you are not European you have to pay 250 Euros”. She asked me what was my religion and how old I was. I had to wait 4 hours to do an x-ray and to consult the doctor that asked me where in my foot was aching and if I had fallen before.
Fortunately, she told me that my foot was not broken and I just had keep it up.

sexta-feira, março 27, 2009

Ípsilon

Como vos faço saber tenho feito colaborações para o suplemento cultural do jornal Público, o conhecido "Ípsilon". A primeira edição do "Ípsilon" foi publicada em 2001, ainda com a denominação "Y", mas foi em 12 de Fevereiro de 2007 que aglutinou os outros suplementos culturais do Público, como Mil Folhas(literatura) e Sons (música).

De acordo com o editor do Ípsilon, Vasco Câmara, a reformulação deu-se por uma mudança de pensamento sobre como se pensava a cultura. Antes dividia-se certos assuntos em suplementos diferentes, porque pensava-se que havia públicos diferentes. Na verdade, a distinção que se fazia era entre a Alta e Baixa Cultura, explica Câmara, em entrevista para a produção deste relatório. “Percebeu-se que não fazia sentido dividir os assuntos, porque um leitor que se interessa por literatura pode interessar por cinema e música. Hoje, o suplemento coloca os assuntos em pé de igualdade”.

O suplemento até o ano passado tinha 64 páginas, mas no momento tem 16 páginas a menos. O editor considera que 48 páginas(o número de págs actual) é suficiente para o leitor. Tal lacuna pode ser preenchida com a recente versão online do Ípsilon: http://ipsilon.publico.pt/


Duas vertentes caracterizam o Ípsilon: o jornalismo informativo e a crítica e opinião.

A reportagem, no Ípsilon, não deixa de ir beber à fonte dos "conceitos do jornalismo clássico", mas é marcada pela criatividade, autoria e literalidade.

Enfim, deixo aqui , para que leiam, um link da minha reportagem mais recente :http://ipsilon.publico.pt/teatro/texto.aspx?id=226023