Caetano Veloso esteve em Lisboa para falar sobre o livro pessoano ''Mensagem''. Mas acabou recaindo na polêmica que envolve sua declaração a respeito do presidente brasileiro.
Crédito foto: Elena San MartínExiste uma ponte invisível que liga Lisboa ao Brasil. De repente, não mais que de repente, parece que estão todos cá, do lado europeu do Oceano Atlântico, muito mais acessíveis aos portugueses do que um dia poderiam ser aos brasileiros, devido à pequena dimensão geográfica deste país. É que Caetano Veloso veio a Lisboa e pude vê-lo falar sobre a influência do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, no Tropicalismo. Ele esteve na Casa Fernando Pessoa, com entrada livre, na última sexta-feira, o mesmo 04 de Dezembro em que Gal Costa apresentou-se no CCB (Centro Cultural de Belém), uma das mais importantes instituições culturais portuguesas. Não chegamos a ver Gal, mas não deixa de ser curioso pensar esta ligação entre os dois países, como se estivéssemos num só lugar. Afinal, Gal Costa estreou como cantora ao lado de Caetano Veloso há 45 anos. Os ares quentes do verão brasileiro também vieram aquecer o inverno de Lisboa através de Edson Cordeiro (concerto também no dia 4), por sua vez, cantor integrante da programação do Centenário do Nascimento da luso-brasileira Carmen Miranda (considerada a precursora do Tropicalismo), comemorado pelo Teatro Municipal São Luís, situado na bela Baixa lisboeta, na segunda rua à esquerda do tradicional Café chamado “A Brasileira”, onde está a famosa estátua de Fernando Pessoa.
À parte de todas essas ligações congruentes, Caetano Veloso, ao lado do poeta e filósofo brasileiro Antônio Cícero, inaugurou naquela noite o ciclo “Livres Pensadores”. A conversa foi mediada pela directora da Casa Fernando Pessoa, a escritora e jornalista Inês Pedrosa. Caetano não cantou, nem sequer assobiou. E a mensagem sobre a influência de Mensagem no Tropicalismo, movimento cultural que revolucionou a música brasileira no fim da década de 60, parece não ter ficado muito clara. Tanto Caetano Veloso quanto Antônio Cícero leram os próprios textos, em vez de discursarem. A espontaneidade só veio à tona quando Inês Pedrosa abriu a conversa ao público. O que parece ter ficado límpido, manchete em blogues de jornalistas portugueses, foi o facto de Caetano Veloso ter se defendido, sem ninguém tocar no assunto, da polémica na qual foi implicado por ter se referido a Lula como analfabeto.
Numa sala superlotada, iluminada pelos flashes - sublinho que a entrada era livre -, com uma outra platéia no andar de baixo a ver a sessão num projetor, o músico baiano, num tom de redenção, disse: “Era algo realmente algo feio de se ver na primeira página do jornal. Feio, porque primeiro não é verdade factual: Lula não é analfabeto. Segundo, porque esse tom me parecia semelhante ao tom grosseiro que tanto me desagrada na nova direita que faz sucesso nos media”.
Caetano disse não estar interessado em corrigir a “edição sensacionalista das suas palavras. Estava mais interessado em quebrar o tabu de em certas rodas, amplamente majoritárias, estar proibido dizer-se mal de Lula”.
Mas o momento de lavar a mancha com água sanitária emerge quando o músico proclama: “à luz tropical do sebastianismo de Pessoa via Agostinho (Agostinho da Silva), Lula surge a meus olhos como uma figura de grandeza histórica e épica. Uma grandeza do tipo épico em versos líricos que se encontra em “Mensagem”. Sinto ternura, simpatia, amor pelas figuras que pareçam carregar a tocha dessa caminhada em que me descobri implicado desde menino”.
Depois de esbanjar em palavras, Caetano volta a dizer que não imagina com facilidade um outro lugar no mundo onde o Presidente não domine a língua oficial do país, que “nem sequer concorde os artigos com os substantivos” e ainda seja louvado pela nação. “Nem na Argentina, nem na França, nem nos Estado Unidos, nem em lugar nenhum”. Fechando com palavras de ouro, Caetano considera o facto um sinal de “originalidade brasileira”, que vem de “sermos portugueses, de termos sido colonizados dessa maneira que agradou ao Gilberto Freyre”.
O debate com a platéia ainda trouxe à tona outros assuntos polêmicos. O tempo da palestra já se estendia para além daquilo que os organizadores previam. Inês Pedrosa, para finalizar a conversa, fez uma chamada geral: “temos de ir, porque temos de ir ver a Gal no CCB”.
Numa sala superlotada, iluminada pelos flashes - sublinho que a entrada era livre -, com uma outra platéia no andar de baixo a ver a sessão num projetor, o músico baiano, num tom de redenção, disse: “Era algo realmente algo feio de se ver na primeira página do jornal. Feio, porque primeiro não é verdade factual: Lula não é analfabeto. Segundo, porque esse tom me parecia semelhante ao tom grosseiro que tanto me desagrada na nova direita que faz sucesso nos media”.
Caetano disse não estar interessado em corrigir a “edição sensacionalista das suas palavras. Estava mais interessado em quebrar o tabu de em certas rodas, amplamente majoritárias, estar proibido dizer-se mal de Lula”.
Mas o momento de lavar a mancha com água sanitária emerge quando o músico proclama: “à luz tropical do sebastianismo de Pessoa via Agostinho (Agostinho da Silva), Lula surge a meus olhos como uma figura de grandeza histórica e épica. Uma grandeza do tipo épico em versos líricos que se encontra em “Mensagem”. Sinto ternura, simpatia, amor pelas figuras que pareçam carregar a tocha dessa caminhada em que me descobri implicado desde menino”.
Depois de esbanjar em palavras, Caetano volta a dizer que não imagina com facilidade um outro lugar no mundo onde o Presidente não domine a língua oficial do país, que “nem sequer concorde os artigos com os substantivos” e ainda seja louvado pela nação. “Nem na Argentina, nem na França, nem nos Estado Unidos, nem em lugar nenhum”. Fechando com palavras de ouro, Caetano considera o facto um sinal de “originalidade brasileira”, que vem de “sermos portugueses, de termos sido colonizados dessa maneira que agradou ao Gilberto Freyre”.
O debate com a platéia ainda trouxe à tona outros assuntos polêmicos. O tempo da palestra já se estendia para além daquilo que os organizadores previam. Inês Pedrosa, para finalizar a conversa, fez uma chamada geral: “temos de ir, porque temos de ir ver a Gal no CCB”.